Não acorde o coach que há em você! – por Jonatas Abbott

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E não atenda à ligação da tia Iracema.

Sim, ainda há tempo de ser feliz e se realizar profissionalmente. De gerar resultados sem torrar a paciência da galera na internet e das plateias.

Tenho uma teoria. A “pandemia coach”, que assola o mundo, é um vírus adormecido, que pode acometer todos, desde desempregados a quem não tem emprego, desde os que estão com tempo de sobra até os que não estão fazendo coisa alguma. Desde os que estão infelizes até os que não têm felicidade alguma.

O vírus é forte. Fiz uma pesquisa com amigos de redes sociais. Eles não sabem, mas secretamente eu fiz. Descobri que nove em cada dez que se separaram passaram a dar dicas de relacionamento. Nove em cada dez que não conseguem comer bem nem manter rotina de exercícios passaram a dar dicas de alimentação, bem-estar, saúde e ginástica. Mas a “cepa” mais aguda dessa doença tem nome e sobrenome: o coach de palco.

Você conhece o tipo. Ele fracassou nos empregos, jamais teve uma empresa de verdade, não reúne um único e mísero case empresarial nem de sucesso e muito menos de fracasso (ou seria o contrário?). Daí ele senta um belo dia e pensa: “O que posso fazer da minha vida?”. Pimba! Bingo! Eureka! Ele acaba de despertar o “vírus coach” em sua versão mais temida. Chega à conclusão óbvia que atingiu minha pesquisa: 11 a cada 10 amigos que fracassaram no mundo corporativo se tornaram coaches empresariais, dando dicas especialmente para essa “gurizada startupeira”.

No Instagram, ele coloca uma foto do Leonardo DiCaprio com uma frase do Ford. Uma foto de Peaky Blinders e uma frase a respeito de resiliência. Uma imagem do Luis Fernando Veríssimo com um texto do Casseta & Planeta. Ah, sim, quando não usam frases de terceiros e se aventuram na própria redação, lançando mão da palavra “assertivo” em quantidade. E claro, fazem de forma “assertiva” e completamente errada (Google, please!).

O problema desse vírus é que ele encontra hospedeiro, ou hospedagem: no cérebro da tia Iracema. Todo projeto de coach tem uma tia Iracema que acha tudo genial e incentiva o sobrinho a continuar. Existe muita tia Iracema nesse mundo. Ou talvez o vírus transforme as pessoas em tias Iracemas, só que ainda não é claro para os cientistas.

O fato é que eles sobem aos palcos (os eventos precisam deles), bradam palavras de ordem, chacras e receitas de sucesso sempre baseadas no intangível, como os hábitos do empreendedor, seu comportamento como líder, suas crenças religiosas e a relevância da mesa de pingue-pongue e do videogame como gatilhos para a inovação no ambiente empresarial.

O segredo é não os contrariar. Tampouco perguntar a respeito de produto, preço, margem, praça, vendas etc. Porque daí outro vírus os acomete: o da gagueira.

Não faça, eu suplico. Quando sentir que o coach que há em você estiver despertando aumente a dose de melatonina, liga a Netflix (mas passe rápido pelo documentário do Osho, pelo amor de Deus, se não o vírus ativa), puxa o travesseiro. Faça alguma coisa!

Ops, estou dando dicas no final do texto. Vou desligar porque já me senti até assertivo e quase certeiro. O telefone está tocando. Sim, minha tia Iracema. Fui!

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